O teatro, a música e a literatura foram os primeiros representantes artísticos dos conflitos humanos e suas relações históricas com o universo. Historicamente, o teatro é berço da tragédia. Inicialmente, na época clássica, com Sófocles, Ésquilo e Eurípedes. Sua gênese seria a de uma história construída a partir de indivíduos com características e valores distintos e extremos, enfrentando desafios e situações extremas e tendo como desfecho o drama.
Sua evolução acompanha a corrupção dos valores morais e sociais, o conflito individual e em grupo, e cria antagonismo tradicional entre heróis e anti-heróis.
Recentemente vimos as ações ousadas dos traficantes, no Rio de Janeiro, ao derrubarem um helicóptero da polícia militar. Esta ação tem um significado maior do que a explosão causada e do número de mortos. Transmite um recado do mundo do crime para as questões de segurança.
Fica nítido que o Estado não tem autonomia para prevenir ações criminosas. Num momento em que a cidade do Rio de Janeiro é escolhida para ser sede das Olimpíadas de 2016, e o Brasil comemora a realização futura da Copa do Mundo, em 2014, as velhas deficiências dão suas caras.
Essa incapacidade de conter ações criminosas de porte terrorista, e a sucessão das ações com vários ônibus queimados, e o caos espalhado pela cidade, junto ao toque de recolher e pânico geral deixam claras as condições em que nos encontramos.
Em seguida, figuras do governo federal aparecem na mídia dizendo estarem em plenas condições de ajudar o Rio de Janeiro, seja financeiramente, seja com apoio policial. Por que os figurantes federais fazem isso? Para disfarçar uma realidade e se eximirem de culpa, como dizendo que se trata de um problema estritamente do Rio de Janeiro e não do país, mas que eles do governo federal estão em plenas condições de apoiar o governo carioca?
Eles querem fazer de conta que o problema não é com eles, querem se eximir de qualquer tipo de culpa. Apenas jogo político, principalmente pelo fato das eleições no próximo ano. E, ao mesmo tempo, um prato cheio para a oposição.
Disputa política à parte, voltamos à realidade. São inúmeros os problemas que nos separam de um país desenvolvido. Ao mesmo tempo em que o governo esbraveja as conquistas do país, esconde a realidade. Boa parte da população analfabeta, vivendo em condições de miséria, com alto índice de mortalidade infantil, prostituição infantil e trabalho escravo.
Isto somado a um Congresso e Senado conivente com a corrupção, encobrindo todo tipo de sujeira, falhas graves como as do caso do ENEM, e interesses particulares se sobrepondo aos interesses do país. Quando as pessoas falham aqui, não assumem a culpa, a colocam no outro. Um velho ingrediente da tragédia. Ache um culpado para seus crimes. E faça dele o vilão. Depois, crucifique-o, e seja o herói.
Não estou tendo um olhar pessimista, e sim realista; se queremos ser considerado um país sério, precisamos ter um comportamento sério. Se queremos retorno financeiro com os projetos ligados ao petróleo, aos jogos olímpicos, à copa do mundo e outros eventos ou investimentos, precisamos ter um projeto sério para gerir os recursos disponíveis, investir no crescimento econômico, apoiar empresas, reduzir o número de desempregos, aumentar o setor produtivo, reduzir os juros, flexibilizar a cobrança de impostos e reduzir drasticamente a corrupção e a ineficiência do estado.
Falta-nos, acima de tudo, comprometimento. Afinal, temos empresas, recursos humanos e capital humano disponíveis, educação, tecnologia e recursos financeiros. Temos os ingredientes necessários para o crescimento e desenvolvimento, mas não temos o comprometimento necessário para sermos elevados a uma condição de primeiro mundo.
Volto a insistir, é responsabilidade de todos. Dos que estão no poder público, dos que votam nos políticos, dos empresários, de cada profissional que busca seu espaço no mercado de trabalho, de cada brasileiro. Antes de criticar, precisamos fazer a nossa parte; mas de forma crítica sim, de forma consciente e participativa.