In vino veritas – na labuta e no ardor do suor
Dia 31 de outubro de 2008, sexta-feira. Porto Alegre.
Depois de uma semana intensa e cansativa de trabalho na capital gaúcha, eu e minha esposa, em plenos 32 graus do calor porto-alegrense, transitávamos pela incessante Avenida Borges de Medeiros que não dava trégua a ninguém. Havíamos saído da prefeitura municipal, na Praça Montevidéo, e tínhamos descoberto que, por força do serviço, teríamos de passar mais uma semana em solo gaúcho.
Achei a situação ótima. Fazia já algum tempo que estava louco pra conhecer a região do Vale dos Vinhedos, no coração do Rio Grande do Sul e, naquele momento, percebi que ali estava a oportunidade. Tratamos de arrumar nossas malas, montar no carro e seguir viagem.
Foram 120 quilômetros até a entrada do Vale. Chegando lá, para nossa surpresa, encontramos uma rodovia estreita que nos faria percorrer os vários cantos dos vinhedos.
A primeira imagem que recordo é deslumbrante. Aquela região, cravada em 82 quilômetros quadrados de terra tinha algo de diferente. E não era somente o clima.
O sol ainda diante de nós, o que se via era uma vista imbatível daquelas primeiras parreiras intermináveis ao longo do horizonte, os contornos verde-oliva que tomavam conta de tudo, e as pequenas curvas que não se cansavam de prosseguir para dentro do desconhecido.
Algumas pessoas dizem que essa região é um pedaço da Itália em nosso solo. Imagino que se trata de um pedaço incomum, diferente, privilegiado de terra e montanhas que nos dá a sensação de estarmos num lugar diferente dos demais.
Após ver o sol cair pelas montanhas, nos dirigimos ao local em que passaríamos todo o final de semana: a Casa Valduga. Na entrada da propriedade, tudo fechado. Será que estávamos no lugar certo? Depois de mais de cinco minutos de suspense, eis que surge alguém responsável pela portaria. Enfim, entramos.
As acomodações são confortáveis, com amplo espaço no quarto, mesa para jantar, um pequeno bar, porém a televisão não é tão grande. Mas quem precisa de televisor em um lugar daqueles?
Porém, o melhor do quarto está fora dele, na sacada. Ao abrir a porta você se depara com a vista do vinhedo, com a vista das pequenas montanhas, com o sopro do clima em seu rosto, com uma beleza natural e rústica que só rivaliza com a tranqüilidade e com o silêncio confortável do entrar da noite. Rapidamente me apossei de uma das cadeiras, pra curtir aquele momento com a paz e a tranqüilidade que só a vida no campo pode proporcionar.
Fomos interrompidos pelo telefone, uma das únicas duas vezes que o ouvi tocar durante todo aquele final de semana. Ligavam da recepção, perguntando qual seria nossa escolha para o jantar. Não entendi de início, mas logo a pessoa que estava do outro lado da linha me esclarecera que havia um cardápio no criado-mudo e que deveríamos confirmar nossa presença no jantar.
O cardápio apresentava-se da seguinte forma: Antipasto (salada de folhas, presunto Parma, alcachofra e tomate); Primo Piato (Risoto de espumante brut, abobrinha e provolone); Secondo Prato (Entrecôte grelhado com guarnição de maionese com batata); Dessert (Bavarese de coco, coulis de morango e cerejas em calda).
Ao chegarmos, uma grata surpresa. Tocava música italiana, um dueto entre Laura Pausini e Andrea Bocelli, havia uma taça de Espumante Moscatel a nossa espera, e o jantar era servido à luz de velas. Você acaba ficando mal acostumado.
No sábado tivemos uma agenda mais incrementada ainda. Já no café da manhã, tivemos o prazer de, ao chegar, sermos recepcionados por um pianista, que tocava Wave, do Tom Jobim. Algo para não se esquecer. Mas também é preciso dizer que eles servem uma geléia de framboesa que vai deixar saudade.
Em seguida iniciamos o nosso curso de degustação de vinhos. Iniciamos com um vídeo sobre a história da vinícula, fundada em 1875.
Depois, fizemos uma detalhada visita em seus setores de produção e armazenamento. Algo que por mais que eu descreva, não terá o mesmo efeito. Por último, fomos para a tal degustação, e pudemos conhecer ao menos 8 vinhos da casa, aprofundar um pouco os nossos conhecimentos e ainda tivemos a oportunidade de conhecer pessoas bem interessantes, o qual tivemos o prazer de almoçar juntos mais tarde.
A partir daí, pudemos percorrer todo o vinhedo; visitamos a Casa de Madeira, um local em que são vendidas geléias, sucos, tudo da produção local e que também é parada obrigatória. Outra coisa que chama a atenção é que as inúmeras cantinas espalhadas pelo vinhedo possuem degustações de vinho bem variadas e interessantes. Só há um porém: elas fecham no final da tarde, portanto, o ideal é acordar cedo e percorrer as propriedades ao longo do dia.
Depois, seguimos em direção ao centro de Bento Gonçalves, que é repleto de lojas, calçadão, e muita gente. Um comércio que não deixa nada a desejar. E, andando pela cidade, também participarmos de uma feira de tecnologia e meio ambiente no mesmo pavilhão de exposições que acontece a FENAVINHO.
Sim, Bento Gonçalves não é somente a casa dos vinhos. Possui o maior índice de desenvolvimento humano do Rio Grande do Sul, um alto PIB, além de uma formação cultural e educacional das mais elevadas.
Ainda tivemos a oportunidade de aproveitar o domingo, antes de retornarmos. Foi um final de semana extremamente agradável, um passeio que ficará em nossa memória pra sempre. Quem tiver a oportunidade de viajar para lá, com certeza terá um dos maiores prazeres e encanto da vida.