domingo, 18 de outubro de 2009

A Origem da Tragédia: do Teatro Grego à Criminalidade no Rio de Janeiro.

O teatro, a música e a literatura foram os primeiros representantes artísticos dos conflitos humanos e suas relações históricas com o universo. Historicamente, o teatro é berço da tragédia. Inicialmente, na época clássica, com Sófocles, Ésquilo e Eurípedes. Sua gênese seria a de uma história construída a partir de indivíduos com características e valores distintos e extremos, enfrentando desafios e situações extremas e tendo como desfecho o drama.

Sua evolução acompanha a corrupção dos valores morais e sociais, o conflito individual e em grupo, e cria antagonismo tradicional entre heróis e anti-heróis.

Recentemente vimos as ações ousadas dos traficantes, no Rio de Janeiro, ao derrubarem um helicóptero da polícia militar. Esta ação tem um significado maior do que a explosão causada e do número de mortos. Transmite um recado do mundo do crime para as questões de segurança.

Fica nítido que o Estado não tem autonomia para prevenir ações criminosas. Num momento em que a cidade do Rio de Janeiro é escolhida para ser sede das Olimpíadas de 2016, e o Brasil comemora a realização futura da Copa do Mundo, em 2014, as velhas deficiências dão suas caras.

Essa incapacidade de conter ações criminosas de porte terrorista, e a sucessão das ações com vários ônibus queimados, e o caos espalhado pela cidade, junto ao toque de recolher e pânico geral deixam claras as condições em que nos encontramos.

Em seguida, figuras do governo federal aparecem na mídia dizendo estarem em plenas condições de ajudar o Rio de Janeiro, seja financeiramente, seja com apoio policial. Por que os figurantes federais fazem isso? Para disfarçar uma realidade e se eximirem de culpa, como dizendo que se trata de um problema estritamente do Rio de Janeiro e não do país, mas que eles do governo federal estão em plenas condições de apoiar o governo carioca?

Eles querem fazer de conta que o problema não é com eles, querem se eximir de qualquer tipo de culpa. Apenas jogo político, principalmente pelo fato das eleições no próximo ano. E, ao mesmo tempo, um prato cheio para a oposição.

Disputa política à parte, voltamos à realidade. São inúmeros os problemas que nos separam de um país desenvolvido. Ao mesmo tempo em que o governo esbraveja as conquistas do país, esconde a realidade. Boa parte da população analfabeta, vivendo em condições de miséria, com alto índice de mortalidade infantil, prostituição infantil e trabalho escravo.

Isto somado a um Congresso e Senado conivente com a corrupção, encobrindo todo tipo de sujeira, falhas graves como as do caso do ENEM, e interesses particulares se sobrepondo aos interesses do país. Quando as pessoas falham aqui, não assumem a culpa, a colocam no outro. Um velho ingrediente da tragédia. Ache um culpado para seus crimes. E faça dele o vilão. Depois, crucifique-o, e seja o herói.

Não estou tendo um olhar pessimista, e sim realista; se queremos ser considerado um país sério, precisamos ter um comportamento sério. Se queremos retorno financeiro com os projetos ligados ao petróleo, aos jogos olímpicos, à copa do mundo e outros eventos ou investimentos, precisamos ter um projeto sério para gerir os recursos disponíveis, investir no crescimento econômico, apoiar empresas, reduzir o número de desempregos, aumentar o setor produtivo, reduzir os juros, flexibilizar a cobrança de impostos e reduzir drasticamente a corrupção e a ineficiência do estado.

Falta-nos, acima de tudo, comprometimento. Afinal, temos empresas, recursos humanos e capital humano disponíveis, educação, tecnologia e recursos financeiros. Temos os ingredientes necessários para o crescimento e desenvolvimento, mas não temos o comprometimento necessário para sermos elevados a uma condição de primeiro mundo.

Volto a insistir, é responsabilidade de todos. Dos que estão no poder público, dos que votam nos políticos, dos empresários, de cada profissional que busca seu espaço no mercado de trabalho, de cada brasileiro. Antes de criticar, precisamos fazer a nossa parte; mas de forma crítica sim, de forma consciente e participativa.




terça-feira, 15 de setembro de 2009

O Brasil versus e Economia Global IV – A Violência versus Sistema!

Foto do Filme Tropa de Elite.

A vida é imprevisível, e cada indivíduo é responsável pelo caminho que trilha em sua jornada. Mas até que ponto temos um domínio total de nos guiar pelos caminhos que escolhemos, ou pelos caminhos que se tornam disponíveis em nossa vida?

Esta semana visitei alguns Centros de Sócioeducação para menores infratores, no Estado do Paraná, onde iremos ministrar alguns cursos profissionalizantes para os jovens lá internados.

Já faz algum tempo que venho trabalhando a formação profissional e individual junto à área de Segurança Pública no país, dos profissionais que nela desenvolvem seu trabalho, e seriamente tentam construir caminhos racionais e seguros para nossa sociedade.

Então me surgiu esse desafio particular neste momento da vida em que estou a repensar o que é educação profissional, ética, valores e outros pontos necessários para se construir um pilar sólido de conhecimento e conquistar um espaço no tão competitivo mercado de trabalho que está a nossa volta.

Já havia feito outra visita, em que pude ter um contato direto com esses menores, e as considerações eu não poderia deixar de refletir aqui. Afinal, pensamos um conceito para educação profissional, e esperamos um resultado a ser alcançado.

Por outro lado, fico imaginando o quanto a sociedade perde com inúmeros jovens fora do mercado de trabalho, alimentando a cadeia do crime e da violência urbana, além das despesas públicas com a tentativa de sanar esses problemas.

Cria-se uma teia de situações negativas, que começa na formação inicial dos jovens no seio de suas famílias totalmente desestruturadas, com ausência de valores, limites e expectativas. Ou seja, partimos de um ambiente inicial sem a mínima condição de desenvolvimento humano.

O que vem a seguir são acontecimentos que agravam ainda mais essa situação. Muitos jovens, sem limites, expectativas ou direcionamento enfrentam a realidade do mundo sem qualquer tipo de vínculo com a sociedade organizada por leis e regras. Como resultado, tem-se o entendimento que eles não fazem parte dela, pois estão à margem disso tudo.

É óbvio que se não há condições deles estarem inseridos a um sistema e competir com as regras do jogo capitalista, para eles não há regras. E matar, morrer, correr, roubar, traficar, se drogar são situações rotineiras e formadas a partir da margem das regras que a própria sociedade deixou de lado para que assim se formassem.

Mais ou menos como “não invada meu espaço, mas no seu, faça o que bem quiser”. Com o passar do tempo, naturalmente esses espaços passaram a se confluir, e os conjuntos de regras e valores diferentes passaram a habitar o mesmo espaço físico social.

Logo, apertar o gatilho de uma arma semi-automática disparando dez tiros em alguém que se recuse a entregar o que eles querem é simplesmente um fato pertinente ao jogo no qual eles estão inseridos. Ou mesmo atirar em quem nada diz, ou não se recusa a entregar seus pertences.

Esse disparo tem um significado a mais, no exato momento em que acontece. Ele marca a confluência dos valores de dois mundos que muitas pessoas queriam que não andassem lado a lado: o mundo das regras, versus o mundo da ausência das regras.

Quando uma arma é disparada atingindo uma “vítima” ela atravessa dois paralelos mostrando que regras não têm capacidade de agir sobre a ausência das regras, ou seja, o Estado não pode, de fato, impedir que o tiro seja disparado, a não ser no papel, na burocracia em um plano virtual, estabelecido por um conjunto de leis e regras formando a Constituição.

O que vale para um mundo não vale para o outro. Mas, a partir do momento em que o conflito é instaurado, as leis e regras passam a valer para os que não a possuem. Como resultado, as instituições para menores, os presídios, e assim por diante.

Olhar por esta forma me faz perceber que enquanto as condições não forem colocadas numa mesma plataforma, e as condições e regras não forem iguais, todos iremos pagar um alto preço pelo resultado: a violência urbana e o alto custo da segurança pública.

Acredito que para diminuirmos o impacto da violência na sociedade é necessário refazer o modelo de sociedade no qual vivemos, estabelecer novas regras para que cada cidadão possa atuar de forma individual e coletiva com direitos e responsabilidades, e por fim, desfazer este modelo atual que insiste em ser errado.

Também acredito que o capitalismo globalizado, sério e eficiente tenha grandes chances de dar sua contribuição, juntamente com a educação profissional. A partir do momento em que você cria uma massa produtora de mão de obra especializada, direcionada, e estimulada (controladamente) por produção e consumo, você começa a reduzir impactos de violência e aumenta sua cadeia de produção.

Com o aumento das taxas de emprego, escolaridade, melhores condições de moradia, saúde, higiene, você quebra espaços improdutivos, você quebra comunidades sem perspectiva, você reduz os índices de criminalidade.

Tanto é verdade, que em países desenvolvidos e industrializados como o Japão, Reino Unido, Coréia e Dinamarca, por exemplo, têm índices de criminalidade em sua juventude muito menores que os da América Latina.

Claro que uma coisa é a explosão da contestação da adolescência, do desafio ao poder, da provação, da violência resultante da falta de oportunidade de empregos, do racismo, do preconceito.

Porém, jovens de treze ou quatorze anos se armando com pistolas automáticas, influenciados por traficantes a roubar e trocar as mercadorias roubadas por drogas é um problema maior na América Latina.

No restante do mundo, jovens e crianças só empunham armas, em altos índices, quando se trata de guerra civil, guerra política ou guerra religiosa; e se olharmos para dentro desses países, enxergaremos a miséria, a falta de educação e a falta de perspectiva econômica como fator de influência, dominância e alienação.

Em sã consciência e partindo de um ambiente em que as regras de concorrência e disputa de mercado foram estabelecidas antes de se nascer, um jovem de dezoito anos que acaba de entrar para uma universidade, tendo a possibilidade de um emprego e uma promessa de construir uma carreira profissional não se empenhará em colocar um cinto com dez quilos de dinamite para explodir um ônibus ou um vagão de metrô abarrotado de gente. Tampouco irá para um semáforo roubar bolsas e sacolas por uns trocados que são trocados por craque.

Contudo, se pensarmos que a globalização, o crescimento econômico e o enriquecimento dos países for capaz de diminuir os impactos da criminalidade e da violência urbana, ainda teremos que esperar um pouco; ou muito, dependendo da região. E precisamos deixar claro que não falamos de erradicação do problema, mas sim em sua redução substancial.

Como influência direta, temos o sistema político, a democracia, e o controle da corrupção como peças fundamentais para sustentar essa linha de pensamento. Isto porque de um problema, nós temos uma toda uma cadeia que se forma ao seu redor, e direta ou indiretamente influencia a todos.

Antes de qualquer coisa é preciso iniciar uma discussão séria sobre o assunto, estabelecer uma proposta de atuação, dividida em níveis, e determinar uma equipe de comissão para gerenciar seu andamento e monitoramento, formada por pessoas ligadas aos órgãos públicos, empresários e profissionais liberais, e pessoas da comunidade em geral.

O sucesso de uma vitória como esta só acontecerá se tivermos uma equipe lúcida, dedicada e comprometida a fazer com que ganhemos, sem preconceitos ou brigas por coisas pequenas e atrasadas. Sempre acreditei na vitória, mas a vitória depende de um grupo, e não de ações e situações isoladas.

Precisamos criar uma rede inicial para discutir, estabelecer condições e, muito importante, divulgar o que estamos fazendo com um marketing maciço e eficaz, e trazer mais pessoas para esta batalha.

Ou seja, somente com as pessoas se envolvendo e participando, de fato, é que teremos chances reais de vencer. Acho melhor começarmos o quanto antes, pois nosso tempo está passando depressa, e águas que já passaram não voltam mais.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O Brasil versus a Economia Global III - A Bahia de Todos os Santos!

Vista da Avenida Maria Quitéria, Feira de Santana, Bahia. Foto tirada por Alberto Granato.

Um país com diferenças geográficas incríveis, praticamente um continente. Assim podemos definir o Brasil. Estou em Feira De Santana, maior cidade do interior da Bahia, para iniciar um novo projeto profissional. Definida como Cidade Princesa, por Ruy Barbosa, trata-se de uma cidade referência e pólo regional para o interior baiano, com comércio variado, redes de hospitais, clínicas médicas com diversas especialidades, um shopping center com cerca de 140 lojas, e um complexo industrial bem variado.

Localizada a cerca de 100 quilômetros da capital do estado, Salvador, tem uma população acima dos 600.000 habitantes, e está situada a 234 metros de altitude. Transformada em Vila em 1833, somente em 18 de setembro de 1873, através de uma lei provincial, se torna um município.

Sua região abriga empresas como a Nestlé, a Ambev, a Pirelli, a Belgo, a Perdigão, transportadoras, revendas de máquinas agrícolas, além de uma participação na agropecuária considerável. É possível, da Rodovia BR 324, avistar inúmeras propriedades rurais pecuaristas, pratica comum em boa parte do estado.

Trata-se de uma cidade plana, com ruas e calçadas largas, preparada para enfrentar um trânsito mais intenso, seja de pessoas ou de veículos. Para quem não está acostumado ao forte calor, uma caminhada no meio da manhã pode ser um pouco exaustiva. Porém, se o sol ou a alta temperatura dão uma trégua, uma caminhada pelas ruas que margeiam o centro pode ser um passeio agradável.

Como nos demais cantos da Bahia, a música está presente em cada rua, em cada esquina, em cada casa, ainda que de forma um pouco mais contida. Também é possível encontrar lugares que vendam comidas típicas, mas também de forma moderada. Não há uma explosão cultural baiana se vendendo nas ruas.

Acredito que seja este o resultado da globalização. Os regionalismos dão lugar aos globais. Tanto, que é mais fácil encontrar lojas das tradicionais operadoras que vendem aparelhos celulares, do que barracas de acarajé ou tapioca. Por onde se anda, lojas e panfletos espalhados com promoções imperdíveis da Claro, Vivo, Oi, etc. E no lugar de trajes típicos, como as roupas das baianas, encontramos jovens vestindo camisetas com a logomarca de uma grande marca ou de uma grande rede varejista. Sim, é como em qualquer lugar.

Claro que se algum morador de Feira de Santana ler este texto irá se perguntar: o que este autor esperava, que as cidades da Bahia fossem diferentes de que forma? Mas não é este o ponto em que quero chegar. O que estou dizendo é que uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, de São Paulo, do Espírito Santo ou da Bahia possui a mesma cara: prédios pintados da mesma cor por conta dos logotipos, redes de varejo tradicionais com as mesmas promoções infalíveis, operadoras de celular aos montes e iguais, as mesmas marcas de artigos de cama, mesa e banho de uma rede tradicional que faz uso freqüente de anúncios televisivos, a mesma marca de farinha para o pão, e assim por diante.

A globalização aos poucos quebra as últimas características particulares de uma região, tornando uniformes as cores das lojas, das camisetas vestidas pelos vendedores, dos prédios comerciais e até mesmo dos prédios residenciais. Isto não é uma crítica, apenas uma observação e constatação. Tem vantagens e desvantagens, como tudo na vida.

A Bahia é um estado que está se modificando a passos largos; tem se modernizado tal quais os grandes centros emergentes ao redor do mundo, e seu crescimento tem se refletido em cada novo edifício espelhado que se ergue.

Sexta maior economia do país, e principal economia do nordeste, tem em suas grandes cidades verdadeiros pólos estratégicos que abastecem todo o estado, e até mesmo estados vizinhos. De um lado, o turismo trabalha para aprimorar suas qualidades; de outro, grandes empresas buscam sua expansão. Com uma indústria automobilística preparada para atender todo o nordeste, o estado abre espaço para outras áreas. A vinicultura e produção de frutas, a exploração de petróleo e minérios, e a educação são referências nacionais.

As taxas de emprego estão aumentando, é verdade. Milhares de pessoas estão conseguindo seu primeiro emprego com carteira assinada, isso também é verdade. E que o assistencialismo dos bolsas-auxílio têm melhorado as condições de alimentação dessa massa, sim, também é verdade.

Contudo, as transformações positivas param diante de velhas barreiras instransponíveis. Ao mesmo tempo em que a modernidade se torna realidade, ela carrega consigo problemas comuns e conhecidos dos grandes centros. Congestionamentos, filas nos supermercados, nos bancos, para se estacionar, e até tornando uma batalha homérica conseguir uma mesa para se almoçar ou jantar em um Shopping Center.

Quando se olha para a infra-estrutura, a situação piora. Um velho conhecido problema brasileiro, a desigual distribuição de renda, atua de forma cruel. Uma grande massa ainda fica distante dos benefícios do progresso. Sem acesso a educação ou formação profissional qualificada, existe uma grande distância entre os que já fazem parte do sistema profissional, e os que não têm condições mínimas de vida digna, muito menos conhecimento técnico que lhes permita conquistar um espaço no mercado de trabalho.

Contudo, além de se trabalhar para ocasionar uma melhor distribuição de renda, a região ainda permite criar novas condições de renda, e aí acredito que esteja o ponto chave para o desenvolvimento econômico e social deste estado. São tão inúmeras as possibilidades de novos negócios e de profissionalização, tanto que o potencial regional tem se revelado todos os anos quando se observa que o crescimento da Bahia é superior ao crescimento médio do país.

Uma vez direcionada, uma boa estratégia pode ser um grande investimento na região. Um estado que possui um povo acolhedor, uma cultura fantástica, belezas naturais e riquezas diversas é uma excelente opção de desenvolvimento. Acredito que deva ser olhado com muito carinho e atenção, igual a tudo na vida.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O Brasil versus a Economia Global II - Diversas Questões

Foto do Porto de Santos-SP

Acabo de ler uma reportagem sobre a empresa multinacional brasileira Gerdau. Em 2008, foi a empresa nacional com maior presença no exterior, de acordo com uma reportagem publicada no Jornal América Economia, no dia 05 de agosto de 2009. Os dados são da Fundação Dom Cabral. E, ainda segundo os dados publicados, revela que as 20 maiores empresas brasileiras com participação no exterior possuem ativos de R$ 201 bilhões de reais lá fora. É o Brasil, aos poucos, atravessando suas fronteiras.
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No início deste ano, a Construtora Odebrecht ganhou uma licitação nos Estados Unidos, para a ampliação do Metrô de Miami até o Aeroporto Internacional da cidade. Um projeto de U$ 360,5 milhões de dólares. E a mesma construtora tem participado de obras ao longo dos quatro cantos do mundo. E para ser aprovada nesses processos licitatórios, a empresa tem que passar por uma série de aprovações rigorosas, estar em dia com todas as suas obrigações fiscais, trabalhistas, etc., além de concorrer com empresas de ponta do seu setor.
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Andando pelo Brasil, vejo um país dividido entre grandes obras e projetos, de um lado, e do outro, um país desigual, atrasado, com falta de estrutura, condições básicas e dignas de sobrevivência. E fico imaginando quanto potencial ainda não aproveitado, que poderia estar produzindo.
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Nossa meta não deve ser simplesmente melhorar os números do PIB para saltar posições, numa avaliação global. Precisamos enxergar as situações micro, que são de extrema importância para o crescimento e enriquecimento real do país.
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Por exemplo, ainda temos milhões de pessoas em condições de miséria, sem acesso às condições básicas e de consumo, sem emprego ou com renda muito baixa. A partir do momento em que tivermos essa população estudando e se profissionalizando, e conseqüentemente trabalhando, teremos um aumento de consumo substancial, além de uma força de trabalho mais qualificada.
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Não somos tão populosos como a China. E isso é uma grande vantagem, pois um aumento do PIB per capita real para uma população que está na casa dos bilhões de habitantes é algo muito difícil. Tanto que, apesar de a China apresentar ótimas taxas de crescimento anual, proporcionar a sua grande população um aumento considerável do PIB per capita não é fácil, nem simples.
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Seria interessante ver empresários e futuros empreendedores brasileiros saírem um pouco dos seus grandes centros e visitarem, conhecerem outras regiões, que estão dispostas a abrigar novas empresas, fornecer mão de obra e conquistarem um pouco de progresso. O país esta aí, para todos.
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Um exemplo real e particular é ver a empresa na qual eu dirijo, a Granato/Unifel, uma pequena empresa de educação e tecnologia da informação, sair do estado de São Paulo, e conquistar seu espaço em outros estados, como o Rio Grande do Sul, Paraná, Espirito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. Sempre com muito trabalho, muita dedicação, e muitas dificuldades. Mas são essas dificuldades que nos têm trazido grandes aprendizados e nos feito crescer. Por isso, já estamos nos planejando e nos preparando para atuarmos na Argentina, no Uruguai e no Chile a partir do próximo ano.
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Não podemos ficar limitados a uma única região, por nos sentirmos confortáveis. Nem imaginar que o crescimento é limitado a um único lugar. As coisas estão acontecendo em muitos lugares diferentes, para descobrirmos precisamos sair do nosso ninho, da nossa toca, e partirmos em direção ao desconhecido, ao novo. Claro que sempre analisando riscos, estudando e planejando bem as nossas ações, mas sem medo de erra ou fracassar, pois bem sei que para atravessar vários estados precisei apanhar muito, errar muito, mas bem sei que até aqui, tem valido muito a pena. Principalmente porque o crescimento profissional e pessoal tem sido muito gratificante.

domingo, 26 de julho de 2009

O Brasil versus a Economia Global I - Transporte Rodoviário

Quando olhamos as estimativas de crescimento dos países, após o tsunami que foi a crise global iniciada em 2008, temos nos deparado constantemente com uma projeção brasileira do PIB em torno de U$ 2,0 trilhões a U$ 2,5 trilhões de dólares, para o ano de 2020. Se esses dados se concretizarem, a economia brasileira será menor apenas que a dos Estados Unidos, Japão, China e Alemanha. Sim, nós temos condições de ser uma das cinco maiores economias do planeta. E em apenas dez anos.

Esses dados nos fazem refletir bastante e pensar no que isso significa. Por exemplo, ao olharmos para a infra-estrutura brasileira, enxergamos que ainda há muito por fazer. Todos sabemos que são muitos os problemas, mas antes de citá-los, e começar aqui uma sabatina aos políticos e a nossa história de democracia deficiente, prefiro, como empresário e cidadão que busca ter consciência do que é desenvolvimento econômico, enxergar quais são os potenciais disponíveis para investirmos, as áreas que estão em pleno crescimento, e encontrar oportunidades para trabalho.

Vejo muita gente criticando, mas acredito que quem quer de fato fazer algo não fica lamentando pelos cantos. "Arregaça as mangas e vai à luta". Foi assim que países como os Estados Unidos, Japão, Alemanha e França fizeram para crescer: trabalhando, arriscando, investindo, quebrando a cara e aprendendo a levantar para se tornarem altamente industrializados.

Países em desenvolvimento, como China, Índia, Rússia e o próprio Brasil têm necessidades básicas que precisam ser corrigidas, para se posicionarem como potências, de fato, industrializadas. E isso, nessa altura do campeonato, pode ser encarado de forma positiva.

Um exemplo disso está em nossas rodovias. O Brasil tem hoje cerca de 1.800.000 quilômetros de estradas e rodovias. Desse total, apenas 200.000 quilômetros são pavimentadas, e a grande maioria, cerca de 1.600.000 quilômetros, são sem pavimentação (sim, as nossas intermináveis estradas de terra).

Logo, imaginamos que há muito trabalho a ser feito, e muita coisa a ser construída. E para quem viaja de carro pelo Brasil hoje, não é difícil se deparar com os inúmeros canteiros de obra, ao longo de milhares de quilômetros de novas rodovias, que estão a surgir.

Um exemplo disso está na duplicação das rodovias entre Curitiba e Porto Alegre. Para percorrer a distância total são cerca de 700 quilômetros. A maior parte já está pronta, a começar por Curitiba até Florianópolis; são cerca de 300 quilômetros duplicados. Também pronta há bastante tempo está a Freeway, rodovia duplicada do Rio Grande do Sul que liga parte do interior até a capital, Porto Alegre. No meio do caminho está o ponto crítico: são cerca de 300 quilômetros que estão em obras de inicialização ou finalização. Uma parceria entre empresas públicas e privadas que tem dado resultado.

Aproveitando este gancho sobre parceria público-privado, as PPPs, acredito que a função do Estado seja definir os projetos e supervisionar as ações, e cabe exclusivamente às empresas privadas a função de execução. Ao contrário do que muita gente imagina, as licitações são sim um meio extremamente eficiente de compra e venda que o governo utiliza. Não é o sistema que apresenta problemas, mas sim algumas pessoas que o operam ou empresas que dele fazem parte.

Outro entroncamento importante, o trecho Rio de Janeiro até Salvador, com uma distância de 1.600 quilômetros aproximadamente, carece urgentemente de duplicação. Parte desse projeto está sendo colocado em prática. A partir do momento em que houver uma duplicação concreta ali, teremos um aumento do escoamento de cargas, redução do congestionamento e tempo de viagem, além de um grande potencial de exploração do turismo na região, realizado por automóveis.

Sem contar o número de vagas de emprego e movimento da economia que irá gerar. Tudo isso é benefício a favor do próprio país, da própria população. Em uma área tão carente, como a do interior do Rio de Janeiro, do Espirito Santo e da Bahia, a contratação de um grande número de trabalhadores ali significa mais alimento na mesa do brasileiro, sem a demagogia dos cartões de auxílio à miséria.

Contudo, o maior exemplo de desenvolvimento vem da Rodovia Presidente Dutra, que liga a cidade de São Paulo a cidade do Rio de Janeiro. São 402 quilômetros daquela que é a rodovia com maior fluxo de veículos diários, cerca de 500.000. Responsável por ligar as duas maiores e mais importantes regiões produtivas do país, a Dutra, como é conhecida popularmente, leva progresso e desenvolvimento em toda sua extensão. Facilita, por exemplo, o escoamento da produção industrial da rica e desenvolvida cidade de São José dos Campos junto a São Paulo, ao porto de Santos e a outros estados brasileiros.

Porém, quando viajamos pelo interior do país, sentimos uma grande diferença de desenvolvimento. Rodovias em condições péssimas, em diversos trechos. A falta de sinalização, de segurança e de áreas de proteção são situações rotineiras. Contudo, aos poucos, a iniciativa privada está assumindo a responsabilidade de conservação das vias, em parceria com o Estado, o que irá melhorar, e muito, as suas atuais condições de uso.

Só que andando por aí, é comum, infelizmente, ouvir muita gente reclamando das rodovias pedagiadas. Porém, precisamos olhar as coisas por outro lado, e com outros olhos, e entender um pouco como as coisas funcionam. Tal prática de pedágio é bastante comum nos Estados Unidos e Europa. Afinal de contas, para manter um país funcionando, é preciso manutenção constante.

Mais ainda. Em São Paulo, estado brasileiro que possui as melhores condições das Rodovias e o maior número de quilômetros pedagiados, a qualidade do asfalto é muito boa. Além de oferecer melhor segurança para se trafegar, com maior controle na prevenção de acidentes, e atendimento eficiente em caso de colisões e acidentes graves, tem-se muito mais rapidez no fluxo do trânsito. Sem contar que a maioria dessas rodovias é monitorada por câmeras, o que facilita na identificação de acidentes, roubos, ou qualquer outro problema que ocorra. Logo, o sistema logístico é o melhor, mais eficiente e com maior quantidade de carga transportada da América Latina.

Por falar em roubo de cargas, de verdade nos deparamos com um problema grave em todo o país. Mas, através de recursos tecnológicos, como o monitoramento por câmeras, controle de deslocamento por GPS, e o sistema de desligamento automático do motor do veículo em caso de situação suspeita, as empresas passam a ter um controle maior da segurança de sua frota e da mercadoria transportada, além de terem condições de realizarem uma maior prevenção contra os crimes. E é claro que os custos com esses recursos são incorporados ao preço de nossos produtos e serviços, e sabemos bem disso quando entramos nos estabelecimentos comerciais ou pagamos a conta no fim do mês.

Ainda assim, as empresas e a sociedade em geral esperam uma atitude mais ostensiva do policiamento rodoviário no combate a criminalidade, afinal de contas, a função dos órgãos de segurança é manter o controle social em equilíbrio. E o Estado tem se preparado para isso. Investindo não só em viaturas e no aumento do seu corpo efetivo, mas investindo principalmente em treinamento e em novos recursos tecnológicos.

Hoje, nos deparamos com um país em profunda transformação. As empresas estão fazendo seu papel, assim como o Estado. Cabe a população, assim como os meios de comunicação, monitorar, cobrar e acompanhar cada uma dessas ações.

Cada indivíduo tem a obrigação de acompanhar, cobrar, reclamar, fazer valer a sua voz, seu voto e seu dinheiro pago em imposto e taxas diversas. Afinal, um país se constrói não somente com as mãos do governo ou das empresas. Um país se constrói com cada mão de cada cidadão que ali habita. E é de responsabilidade de todos construir o desenvolvimento, pois é um direito de cada brasileiro viver em um país mais justo, igualitário e com condições dignas de sobrevivência.



sexta-feira, 24 de julho de 2009

A Desconstrução da Comunicação e do Marketing Tradicional: Navegar é preciso; viver não preciso.

Quero abordar um tema recorrente dos anos 1980 e 1990, em que se dizia que as empresas prezavam compreender o comportamento do cliente, conhecer seu produto a fundo, as necessidades do mercado, e, se quisessem sobreviver, deveriam desenvolver um marketing diferenciado para ter destaque e ser referência positiva no mundo dos negócios.

Como professor e profissional de marketing (não sei se considero isso passado, pois hoje estou a me re-descobrir enquanto profissional) estou olhando ao longo dos anos que se passaram e vendo (aqui vou ter que ser repetitivo) como as coisas, as empresas, os produtos, as pessoas e o mundo em geral têm se modificado rápido.

E entendo, num primeiro olhar, que a comunicação e o marketing nunca estiveram tão presentes na vida das empresas, como nos dias de hoje. A começar pela internet. Além de apresentar as maiores inovações em termos de propaganda, ela vai muito além, construindo um novo conceito para divulgação de forma realmente interativa. Domina os contatos entre clientes-empresas, é porta de entrada e saída para a divulgação e o conhecimento de produtos e serviços, e através de sites, blogs e twitter permite que todos sem exceção possam participar de seu processo de desenvolvimento.

Hoje, mais do que em qualquer outra época da história da humanidade, o processo de comunicação está em seu ápice. São inúmeros os meios para que todos possam se comunicar, sejam entre clientes e empresas, ou mesmo entre clientes e clientes. Sim, para o temor das empresas, os clientes de uma empresa, produto e serviço, estão conectados 24 horas por dia, trocando todo tipo de informação.

O twitter, por exemplo, é um rápido meio de comunicação, é usado para divulgar produtos, serviços, filmes de cinema, shows de música, lançamento de campanhas promocionais, comentários e acontecimentos de esporte, ou comentários sobre qualquer outra coisa.

Ainda sobre o cinema, os estúdios estão extremamente preocupados com os seus lançamentos mais importantes. Em um único final de semana, de acordo com a repercussão dos comentários de um filme em blogs ou twitter, seu sucesso de bilheteria, ou seu fracasso total podem ser decididos em poucas palavaras, logo em sua primeira semana de estréia. O que se fazer numa hora dessas? Bons e divertidos filmes, é claro. Assim, terão menos chance de ter comentários negativos.

Mas é claro que não é bem assim. Nem sempre um comentário geral, seja positivo ou negativo, revela o que de fato o filme representa. O mesmo vale para as demais coisas, produtos, serviços, etc. Senão, teremos uma enxurrada de lançamentos de filmes repetitivos, que estamos cansados de assistir, sempre com os mesmos finais, com os mesmos efeitos, com os mesmos heróis. E olha que há muito tempo tem sido assim.

Só que, de uma forma geral, as vozes que não encontraram dimensão maior para ecoar, como nos grandes meios de comunicação, agora podem fazer isso em blogs e twitters particulares. Muitas vezes, eu prefiro saber da opinião de um amigo que foi ver a um determinado filme, pois eu o conheço e sei de seus gostos e comentários, do que ler a opinião de um comentarista de um grande veículo de comunicação, que eu nem sei quem é.

E um grande número de empresas sabe disso, e está se movendo de forma diferente; quer dizer, estão pensando de forma diferente, criando abordagens diferentes para se chegar ao seu cliente, ao seu público. E o mesmo vale para estudar, compreender e acompanhar os concorrentes.

Com a internet, veio junto a possibilidade de todos terem voz. E o mais interessante é que algumas empresas enxergaram isso e estão tirando muito proveito dessas ricas ferramentas. E acho que esse é o grande divisor de águas. Até pouco tempo atrás, os comentários que valiam eram apenas os de um conceituado crítico de um meio de comunicação de massa. Hoje, o que vale é o que os meus grupos e comunidades da internet estão dizendo, pessoas iguais a mim, sem nenhuma bandeira, marca ou instituição por trás, além da minha própria voz, é claro.

Internamente, a empresa acompanha as mudanças. Hoje, equipes conseguem discutir assuntos, montar projetos e fazer planejamento de forma muito mais precisa e eficiente, e sem precisar dividir a mesma sala de reunião. O valor imensurável das teleconferências é tão grande, que além de funionarem de verdade de forma mais rápida, são mais econômicas e interativas.

Por tudo isso, acredito que o marketing que vá funcionar no século XXI seja aquele em que a abordagem seja individual e ao mesmo tempo em grupo, mas fundamentalmente que proporcione a interação entre empresas e seus grupos de consumidores, e que troque essas informações virtualmente. Sem contar os novos grupos de consumidores/usuários que estão a surgir em cada fórum de discussão online.

Outro fator importante é a possibilidade de usar a internet como voz para seu cliente, tendo a possibilidade de fazer uma análise de mercado bem mais profunda. Quando realizamos uma pesquisa com um grupo de pessoas em uma sala, ao olharmos nos olhos de cada um, nem sempre ouvimos a verdade. Em parte, porque quando estamos em grupo, é mais fácil concordarmos com os demais, para não parecer um estranho no ninho, assim como não temos a coragem necessária de criticar uma pessoa, ou o seu produto, olhando diretamente em seus olhos, ainda mais se tivermos um grupo de desconhecidos ao nosso lado.

Já quando estamos na internet, no aconchego de nossa sala de trabalho, ou de nossa casa, tendemos a nos sentir mais à vontade, mais confiantes, então podemos dizer aberta e verdadeiramente o que pensamos. Afinal, não precisamos encarar diretamente o outro, e ainda nos sentimos protegidos por estarmos em nosso habitat natural. Sim, gritar pela internet nos dá uma sensação de segurança.

Por conta dessas e de outras razões, sei que os processos de marketing e de comunicação estão hoje em alta, sim senhor. Mas não mais em sua forma tradicional, burocrática, enfadonha, teórica, riscada em um case. Para encontrar o sucesso no século XXI, antes de mais nada, é preciso matar e enterrar o tradicional marketing praticado no século passado.

Porém, é preciso acompanhar a evolução do mundo, conhecer outras empresas, concorrentes, outros países, pesquisar muito e estudar a tecnologia da informação mais ainda; arriscar, participar, fazer sua voz ecoar por vários cantos, é preciso, acima de tudo, navegar. Para mim, o poema de Fernando Pessoa nunca foi tão famoso, e se faz presente ainda mais e mais a cada dia em que construímos nossas novas estratégias de comunicação e marketing: “navegar é preciso, viver não é preciso”.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Uma perspectiva sobre a Criminalidade


Fico imaginando uma série de perguntas a respeito de segurança pública, direitos humanos, valores sociais e morais. Vejo as pessoas em geral, a mídia, e os políticos dizendo que nós estamos perdendo o controle da situação, mas qual situação exatamente?

Muito se tem falado sobre o aumento da criminalidade no Brasil, do aumento do crime organizado, do uso da tecnologia e de armamento pesado por parte de quadrilhas, porém, antes de qualquer afirmação, precisamos entender a sociedade de ontem, compará-la com a sociedade de hoje, para saber se o aumento do número de pessoas (sua população como um todo) acompanha o aumento dos números da criminalidade em maior ou menor escala.

Em seguida, precisamos mapear os ambientes de cada parte envolvida nessa história: do criminoso, a sua estrutura familiar, social, cultural, educacional e política. Por parte da vítima (se é que seja adequado usar este termo), mapear os seus ambientes, seus valores sociais, familiares, culturais, políticos e educacionais. Por fim, visualizar claramente os dois ambientes, os momentos em que eles se confluem e se confundem, e a resultante que vem em seguida.

Ao término, precisamos entender o papel do Estado, das Secretarias de Segurança Pública, da Polícia e como a interação de ações podem surtir efeitos positivos na redução ou controle da criminalidade.

O certo é que falar sobre a violência aumenta o ibope na televisão; quando um político assume os dados da violência recebe mais votos, pois demonstra estar ciente do problema e não quer jogar sujeira para debaixo do tapete. Mas o que isso resolve?

Países como os Estados Unidos e Inglaterra têm se destacado por conseguir reduzir os números de criminalidade consideravelmente. Com recursos tecnológicos e uma postura rígida, aplicam a tolerância zero para o combate ao crime. Porém, é necessário conhecer mais de perto as estratégias adotadas ali.

Países como a Noruega, Dinamarca e o Japão estão entre os mais seguros historicamente, em que os índices de criminalidade não são a maior ameaça de suas sociedades, pelo contrário. Quais são as razões, então, dessas situações tão positivas? Contudo, ao olhar a história da formação desses países, a violência fez parte da formação do Estado, ou não?

Quando focamos para o desenrolar do contexto histórico, enxergamos a questão da violência por uma ótica diferente. A própria Dinamarca, por exemplo: na Idade Média, através dos Vikings, recortaram a Europa com invasões, guerrearam por duzentos anos com a Suécia e empregaram a violência contra várias nações. Somente em 1864, quando então derrotada pela Prússia, é que reduziu seus avanços contra o restante europeu, passando a adotar um comportamento mais pacífico.

Por outro lado, temos exemplos espantosos, no sentido positivo. A Noruega é um desses casos: seus índices de violência são extremamente baixos. Em dados publicados este ano (2009), tem-se o incrível número de 45 mortos por anos, em conseqüência da criminalidade. A fonte é do Statistisk Sentralbyrå (Instituto Nacional de Estatística da Noruega), tomando 2006 como o ano de referência. Ainda, segundo os dados deste Instituto, foram 20 homens e 25 mulheres. Apesar de se tratar de um país com apenas 5 milhões de habitantes, o índice é espetacular.

Só para termos uma dimensão do Brasil, em 2004 tivemos 48.000 mortes por conta da criminalidade. Tomando outra referência, para fim de comparação, acompanhemos os dados do Iraque, país em Guerra Interna e invadido pelos Estados Unidos. De 2004 a 2006 (três anos) foram 40.000 mortos no total. Ou seja, nosso índice de criminalidade mata mais em um ano, do que três anos de Guerra no Iraque.

Ainda dentro desse parâmetro, um absurdo ainda maior é o de que somente no Estado de São Paulo, em 1999 foram registrados 12.818 homicídios dolosos (em que se houve a intenção de matar). Em 2008, por conta dos reflexos da Guerra, morreram 9.214 pessoas no Iraque, seja por conflitos, por explosões de carros-bomba, homens-bomba ou qualquer outro meio violento.

Hoje, 2009, os índices de homicídios em São Paulo caíram, é verdade. E numa proporção até que satisfatória, conforme mostram vários dados estatísticos. De 2000 para 2009, os índices caíram 70%, de acordo com vários órgãos públicos. Logo, temos que levar em conta os meios utilizados para tal redução, compreendê-los e melhorá-los ainda mais.

Aqui segue apenas um esboço das minhas primeiras reflexões sobre o mapa da violência. É a partir desse esboço, e apoiado em dados concretos, que iniciarei meu livro. Apesar de nos depararmos com uma situação caótica, acredito, sem margem de dúvida, que podemos ter um equilíbrio social maior, e uma melhor qualidade de vida.


sexta-feira, 10 de julho de 2009

Algumas reflexões e considerações sobre lançamento literário

Foto do Teatro Ópera de Árame, Curitiba, Paraná.


Estou prestes a publicar alguns livros no mercado. Tanto Literatura, como Livros Técnicos. A parte técnica é resultado e necessidade do meu trabalho, é uma ferramenta que uso nos cursos, e imaginei que, se eu pudesse unir um pouco de tudo aquilo que faço, talvez encontrasse um meio para não só divulgar meu trabalho, bem como facilitar a realização dos cursos, no dia-a-dia.

Quanto a parte literária, é um lado que pretendo resgatar. Sem maiores pretensões, senão me divertir um pouco escrevendo. Na verdade, um já foi lançado, trata-se de um romance. Eu o lancei há cerca de onze anos, mas fiz algumas alterações ao longo do tempo para torná-lo um texto mais ágil. O título é Bordéis de Areia. Algum tempo depois eu o tornei uma peça de teatro, enfim, veremos como será.

Ainda dentro da literatura há também um livro de contos, Janelas para Babilônia, sendo que três contos dali receberam alguns prêmios de literatura, coisa simples, mas que estão compilados em uma única obra e que ainda não foi lançado. Acho que sua hora talvez esteja chegando. Um dos contos também foi adaptado, por mim mesmo, para o teatro em um monólogo, com o nome de Babilônia em Cânticos, e foi uma experiência ímpar.

Os outros três são livros técnicos, em que os utilizarei para alguns cursos da Unifel. O primeiro deles fala sobre Língua Portuguesa e Redação Profissional, voltado para profissionais que precisam da escrita no dia a dia de trabalho, é bem prático, simples e objetivo.

O segundo dessa linha se trata de uma compilação de dez áreas profissionais, utilizado em nossos cursos in company. Seu título é Extremo Desempenho através da Qualificação Profissional, e aborda desde recursos humanos e comportamento em grupo, passando por comunicação e marketing, estratégia, tecnologia da comunicação, e gestão do conhecimento.

Por fim, o terceiro livro, também voltado para os cursos da Unifel, em especial pretendo utilizá-lo para os cursos de formação que faremos em parceria com a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia, a Prefeitura Municipal de Vitória, algumas Universidades do Espírito Santo, e o Governo do Estado do Paraná, cujo título será O Ser versus o Social, e aborda Direitos Humanos, O papel Social de Cada Um, a Violência Urbana versus a Educação, A Formação da Juventude e a Criminalidade, e O Impacto do Trânsito e o seu Reflexo Social.

Estou escrevendo aqui em meu blog para tomar coragem sobre a questão do lançamento. Já disse, não tenho pretensões a respeito disso, a não ser aproveitar o espaço que tiver para falar um pouco do que vivo no dia-a-dia de trabalho, aquilo que vejo, que sinto, que faço. Espero que o público aprecie.


terça-feira, 7 de julho de 2009

Em Busca do Elo Perdido – da Segunda Guerra Mundial à Queda do Muro de Berlin, tudo começa e termina na Internet.


O dia é 06 de agosto de 1945. Sob o mar do Pacífico, três aeronaves norte-americanas sobrevoam o espaço aéreo japonês, em busca do elo perdido. No controle de radar, os japoneses imaginam se tratar de uma expedição de identificação norte-americana, e não tomam conhecimento maior do fato. Eles evitam mandar seus aviões interceptarem as aeronaves estrangeiras para economizar combustível, uma vez que a guerra se tornou lenta e passou a consumir muito dinheiro.

Porém, um dos três aviões norte-americanos é um B-29, batizado com o nome de Enola Gay – nome este em memória da mãe de seu comandante e líder da operação, o Capitão Paul Tibbets. Trata-se de uma expedição disposta a por fim na segunda guerra mundial, a um custo extremamente caro, mas, segundo seus arquitetos, um mal necessário. Às 8 horas, 15 minutos e 17 segundos eles sobrevoam a cidade de Hiroshima e lançam a primeira bomba atômica disparada no mundo.

O impacto da explosão, e a alta temperatura que emerge fazem com que o asfalto e o aço queimem feito papel, segundo a descrição de vítimas sobreviventes. Cerca de oitenta mil pessoas morrem instantaneamente.

Tal atitude extremamente agressiva fora justificada pelo fato de o Japão não ter a menor intenção em por um ponto final na Guerra, naquele momento, e, segundo os especialistas da época que autorizaram o uso da bomba nuclear, se a guerra continuasse, milhões de pessoas inocentes continuariam a morrer.

Provocado a se render, o Japão se nega veemente. Então, no dia 09 de agosto de 1945, a mesma situação se repete, só que em local diferente. Uma equipe norte-americana, com três aeronaves, sobrevoa outra cidade japonesa, agora Nagasaki. Novamente os japoneses imaginam se tratar de um vôo de reconhecimento, por parte dos norte-americanos. E novamente outra bomba atômica é lançada, matando milhares de pessoas imediatamente. Horas depois o Japão se rende, e a segunda guerra mundial chega ao final.

Não cabe aqui reconstituir o que provocou a segunda guerra, iniciada pelos alemães com a invasão da Polônia, em 1939. A Guerra é algo cruel, arrasador e desumano, e todas as justificativas de ambos os lados não são suficientes para aconchegar os familiares dos mortos. Nem tampouco os monumentos da paz em memória dos que perderam a vida em combate são suficientes para justificar os fins.

Entretanto, importa, aqui, o impacto do pós-guerra. As bombas lançadas sob as cidades japonesas representaram muito mais do que um avanço tecnológico militar. Determinaram os caminhos que a economia global viria a tomar nas décadas seguintes.

O desenho da economia global atual vem das conseqüências da Segunda Guerra. Quando a Europa foi redesenhada a partir dos escombros que ficaram como herança do pós-guerra, tendo o Reino Unido e a França, antigos inimigos e então parceiros aliados – como líderes, surgia uma gigante potência do outro lado do Oceano, que estava apta e com plenas condições de assumir a hegemonia econômica global, formada pelos Estados Unidos da América.

Responsável por desenvolver grande parte da tecnologia para a segunda guerra, e fornecer suprimentos e recursos necessários para auxiliar a Europa a se reconstruir, os Estados Unidos ditaram o novo modelo econômico a ser seguido a partir daquele ponto. O fato de não ter um país devastado estruturalmente pela guerra, colocava-o em situação ímpar.

Ao mesmo tempo, outra potência – neste caso militar, formada pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), assume o papel de antagonista dos Estados Unidos, difundindo o Socialismo e dando início ao que ficou conhecido como Guerra Fria.

Uma luta travada entre dois sistemas econômicos, envolvendo questões financeiras, políticas e militares. De um lado o Capitalismo, com o poder centrado no processo de produção, nos lucros e na expansão econômica, gerenciado por grupos e empresas, e tendo o Estado como órgão regulador. Do outro lado, o Socialismo, em que o Estado assume o papel proprietário, controlando o sistema de produção e a regulação do lucro.

Com o término da Segunda Guerra, e com a morte e queda do governo alemão de Adolf Hitler, a própria Alemanha se vê dividida em duas partes: a Alemanha Ocidental, com relacionamento próximo dos países capitalistas europeus, e a Alemanha Oriental, socialista, e que passa a fazer parte do bloco liderado pela URSS, até então sua inimiga por conta da guerra.

Contudo, o pós-segunda guerra reflete em todo o globo terrestre. Na América Latina do pós-guerra ocorrem as ditaduras militares, intervenções do Estado diante da soberania política, na tentativa de evitar que seus países passem a aderir ao sistema socialista da URSS. A maioria dos países latinos é financiada pelos EUA, para conter a propagação do regime soviético.

Em 1950, a Coréia, pequeno país asiático, inicia um conflito interno. País dividido em norte (comunista, amparado pelos chineses e soviéticos) e sul (amparado pelos norte-americanos e aliados), os coreanos batalham por três longos anos, para tentar impor um sistema unificado de governo.

Inicialmente, a Coréia do Norte invade a Coréia do Sul, na tentativa de expandir o regime comunista. Contudo, as Nações Unidas, lideradas pelos Estados Unidos, enviam tropas de exército em apoio aos sul-coreanos, fazendo seus adversários norte-coreanos – juntamente com os aliados chineses, se renderem em 1953.

Após mais de cinqüenta anos do cessar fogo, em pleno século XXI, ambos os países ainda não assinaram um tratado de paz. Recentemente a Coréia do Norte tem aparecido nos meios de comunicação por conta de seus testes nucleares. Entretanto, sua situação econômica atual é péssima, diferente da Coréia do Sul, que goza de uma excelente reputação na educação, é altamente industrializado e tem um produto interno bruto per capita elevado, acima dos U$ 10 mil dólares.

Em 1959, o Vietnã, outro país asiático dividido em Vietnã do Norte, com regime comunista e apoiado pela URSS, e o Vietnã do Sul, com regime capitalista e apoiado pelos Estados Unidos entram em guerra. O Vietnã comunista avança suas tropas para assumirem o controle da porção sul do país, e os Estados Unidos, que atuavam da Guerra com apoio à parte Sul, se viram obrigados a se retirar do conflito. Desta forma, o Vietnã assume totalmente o regime comunista, apoiado pela URSS.

Em Cuba, no ano de 1959, Fidel Castro, lidera uma força revolucionária, que conta com a participação do argentino Ernesto Guevara de la Serna, conhecido mundialmente por Che Guevara, e provoca a queda do ditador cubano Fulgêncio Batista – que abandona o país em 1º de janeiro deste ano.

O ponto interessante desta história é que na ocasião da Revolução, Fidel não era um comunista, mas sim Fulgêncio, que inclusive era apoiado pela URSS. Como resultado dessa revolução, foi instalada uma ditadura imposta por Fidel, que se mantém até os dias de hoje. Porém, em 19 de fevereiro de 2008, Fidel renuncia ao governo por problemas de saúde, mas transfere o poder para as mãos de seu irmão, Raúl Castro. Historicamente, Raul foi eleito pela Assembléia Nacional de Cuba.

No Brasil, estoura o golpe militar em 1964, com a queda do então presidente João Goulart, para a posse do General Humberto de Alencar Castelo Branco. A explicação para tal ato fora a de que João Goulart estaria se preparando para entregar o Brasil “nas mãos de soviéticos”, transformando o país em um regime socialista. O Golpe teve apoio da Sociedade Civil, da Igreja, e de empresários de diversos setores, além do apoio do governo norte-americano.

E é na Alemanha que a Europa tem o principal acontecimento deste momento histórico: a construção do Muro de Berlin, em 13 de agosto de 1961. Este ato significa uma ruptura total dentro da própria Alemanha, uma tensão dentro de uma única nação e ainda um reflexo conturbado do que ainda seria a Europa naquele instante.

Ao mesmo tempo em que se armavam para a Guerra Global, países socialistas viam, dia após dia, suas economias se distanciarem da realidade tecnológica do mundo capitalista, liderado pelos Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido e França. Não possuíam empresas multinacionais com força econômica, não dominavam tipos diferentes de tecnologia - a não ser as relacionadas às guerras e à tecnologia espacial, e não tinham capital suficiente para disputar espaço no mundo real.

Por outro lado, o Produto Interno Bruto dos Estados Unidos salta ano após ano para cima, suas multinacionais se tornam cada vez mais fortes e influentes, e seu modo de vida é cada vez mais propagado. Empresas como McDonald´s e Coca-Cola são referências quase divinas ao redor do mundo. Nos anos 1960, eles desenvolvem a internet como meio de troca de informação rápida, para combater os russos na Guerra Fria, e nos anos 1970 já começam a utilizar o telefone celular para realizar ligações.

A partir daí, o mundo todo passa a se transformar cada vez mais rápido. E nos anos 1980, iniciam as grandes transformações políticas. No Brasil, chega ao fim a ditadura militar, no ano de 1985. Na Alemanha, em 9 de novembro de 1989, ocorre o maior acontecimento de todos, a “queda do Muro de Berlim”, praticamente encerrando a Guerra Fria, tornando a Alemanha uma única nação, abandonando o lado socialista.

Em setembro de 1991, outro feito importante, é decretado o fim da URSS, com a dissolução das repúblicas soviéticas. Rússia, Ucrânia, Bielo-Rússia agora são países independentes, que lutam por suas economias, pelo seu sustento e pelo próprio desenvolvimento.

Países até então socialistas passam a se aproximar do bloco capitalista; aos poucos a televisão, o computador, a internet e a telefonia passam a colocar o mundo em comunicação plena, encurtando distâncias. O modelo de vida propagado pelos Estados Unidos, de consumo excessivo, desenvolvimento da carreira profissional e o status social passam a despertar no restante do mundo a mesma vontade.

Tudo passa a ser resultado do marketing, valorização das ações na bolsa de valores, todos querem ter uma boa estratégia de negócios, uma boa imagem, um bom produto ou serviço, e um atendimento diferenciado. Produtos e serviços passam a ser personalizados, os valores sociais passam a ter um teor diferente, surgem novas realidades, novos formatos de família, a vida solitária crescendo cada vez mais.

Quando passamos pela porta do século XXI, adentramos à era da tecnologia digital, das telecomunicações integradas à informática, da robótica, da nanotecnologia. A maior guerra de hoje é a da conquista por um lugar ao sol. Somos, todos do globo terrestre, conseqüência dos acontecimentos da segunda grande guerra.

O mais importa é tirarmos uma grande lição de tudo que aconteceu nos últimos sessenta anos, e aplicarmos os ensinamentos em nosso dia a dia pra construirmos uma sociedade melhor, um mundo mais justo, mais igual. A tecnologia que hoje dispomos, permite isso. Basta que cada um faça sua parte. Afinal, somos efeitos da globalização.

Escrito por Alberto Granato.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O Baú das Memórias – La vai uma Chalana – bem longe se vai...



Estou mexendo no baú das minhas memórias. Sei que sou novo ainda pra fazer isso, mas tudo tem se tornado obsoleto, ultrapassado, que já somos incapazes de lembrar como era a vida sem o celular e sem a internet. Insisto: não sou tão velho assim, mas a tecnologia e os tais tempos modernos têm feito nós desprezarmos como fazíamos para mandar um recado para a namorada (e tínhamos que ser criativos para agradar) ou mandar um alô para os amigos.

Os jovens de hoje não têm idéia de como se comunicar sem os torpedos, o MSN e o Email. Não é uma crítica, apenas uma constatação. Mas vamos lá. Sou um entusiasta da música. Ouço muito jazz, blues, gosto demais da Amy Winehouse, e acho que ultimamente ela tem desperdiçado seu talento, mas resolvi, não sei por qual motivo, relembrar as músicas sertanejas de quinze anos atrás. Quer dizer, o que eu ouvia há quinze anos, e para escrever este texto acabei por ouvir clássicos que foram sucesso antes mesmo de eu nascer.

Há muito que não ouço música sertaneja, estou me referindo aqui ao estilo típico do final dos anos 80 e início dos anos 90 do século passado. Os CDs que tenho deste gênero, posso assegurar que já tocaram muito em baladas, churrascos e festas que fizeram parte da minha juventude. Mas hoje estão no fundo do armário, pois agora meus arquivos e acervo estão em MP3, armazenados em meu computador e em meu pendrive.

De qualquer forma, pude ouvir e relembrar Chalana (coisa antiga mesmo), Toma Juízo, No dia em que saí de Casa, e até descobri alguns blogs, como do Leandro e Leonardo - e lá li que ontem fez onze anos da morte prematura e trágica de Leandro.

Lembrei também da morte brutal de João Paulo, parceiro de Daniel, e logo me vi nos shows que fizeram parte das minhas andanças, da multidão aglomerada na beira do palco, o chão de terra, e a cerveja no copo de plástico. Também pude ler um pouco da história de Inezita Barroso, Tonico e Tinoco, Almir Sater e do próprio Cornélio Pires, responsável por criar a base desse estilo. Cresci no interior de São Paulo, em Bauru, pra ser mais exato, e por mais que tivesse um gosto eclético, e colocasse o rock como minha preferência, vez por outra o estilo musical caipira se fazia presente, fosse em minha própria casa, ou em alguma festa, e até mesmo nas rádios.

Os mais compreendidos no assunto dizem que o berço desse estilo musical está na música de raiz, a música caipira ou a moda de viola, que hoje está transformada em música country, e voltou a fazer muito sucesso na mídia em geral.

Com origem na década de 10, do século XX (sim, são 100 anos de história), foi inicialmente radiografada pelo jornalista e escritor Cornélio Pires, natural de Tietê, interior de São Paulo e que mais tarde adotou a capital paulista como morada e local de trabalho, que retratava minuciosamente os hábitos e comportamentos dos habitantes do interior de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná – em geral imigrantes europeus e de origem (raiz) rural. Etnógrafo e estudioso lingüístico da cultura e linguagem caipira, Cornélio aponta uma melodia ritmada com acompanhamento da viola, da sanfona e da gaita como sua base inicial.

Nas décadas seguintes, a moda de viola ronda todo o país, de forma regionalista e incorporando alguns instrumentos, como o violão, e novos ritmos musicais. Os shows na rádio passam a ser comuns em todos os estados, sempre com destaque para o Interior. Aos poucos vão nascendo clássicos como Chalana, Chico Mineiro, Tristeza do Jeca, composições que vivem até hoje com grandiosidade.

A transformação marcante dos gêneros a partir da moda de viola para o sertanejo tradicional ocorre na virada das décadas de 60 e 70 do século XX, com alguns personagens em seu auge, como Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, e Inezita Barroso, e, do outro lado, uma nova geração começando a despontar para o sucesso, como Sérgio Reis, Milionário e José Rico, João Mineiro e Marciano, e Chitãozinho e Xororó.

Uma década depois, a sua popularidade atinge seu topo, através dos versos gritantes e agudos das duplas sertanejas, com melodia melodramática e ingênua, garimpada do estilo romântico do século XIX, o estilo calça jeans agarrada e os cabelos compridos e despenteados. Na voz da dupla Chitãozinho e Xororó, a canção Fio de Cabelo se torna um clássico imbatível, lançada no disco Somos Amantes, em 1982, e vendendo quase 2 milhões de cópias. Um pouco mais tarde, se acrescentam a eles Leandro e Leonardo, e Zezé di Camargo e Luciano, também rumando para o sucesso retumbante.

A partir deles, a popularidade atinge patamares jamais imaginados, com recorde de vendas (discos de platina) seguidos, shows por todo Brasil e Exterior, liderança de audiência nas rádios e figuras constantes nos canais de televisão. Sucessos como Pensa em Mim, Entre Tapas e Beijos, e É o Amor viram mania nacional, bordões, canções publicitárias, discursos em serenatas de amor e são ecoadas diariamente nas vozes de milhões de brasileiros por todos os cantos do país, e não mais somente no Interior.

Mas, como tudo é modismo, após sua imensa repercussão nacional, conforme o final da década de 90 vai se aproximando, a sua popularidade vai caindo, esfriando o boom caipira. Logo, seus artistas passam a buscar uma nova forma de se reinventar, e a mesclar gêneros musicais, para garantir seu espaço na mídia e junto aos fãs.

Para o século XXI, é apresentado um estilo musical mais atualizado, com o ritmo acelerado, um pouco mais dançante e menos melodramático. São acrescentadas guitarras, o violino entra em cena, e até mesmo o piano acompanha, e os shows passam a ser superproduções com dançarinos e dançarinas profissionais, iluminação digna de um espetáculo internacional e os cenários se tornam mais interativos.
Novos nomes surgem, e hoje o gênero flerta com o country, com o rock, com a MPB, Axé, Forró, tudo para proporcionar ao seu público um estilo único. E parece que o resultado tem dado certo. Ao menos os fãs dão a impressão de que aprovam.

Revendo canções, recordando os seus significados, e ouvindo o que há de “moderno” hoje em dia, fiz uma viagem que não estava em meus planos. Uma viagem pelas porteiras da cultura brasileira, que atravessam as fronteiras do comum, do básico, e invadem o meu espaço. Eu poderia jurar que este assunto jamais estaria aqui, principalmente no meu primeiro momento. Mas, enfim, deixei o vento conduzir minhas palavras, e as vi descerem rio abaixo, levadas pela Chalana, carregadas de saudosismo e saudades.

Escrito por Alberto Granato.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Diário de Bordo: Bento Gonçalves - RS


Em Casa, em pleno Vale dos Vinhedos, a Casa Valduga!

In vino veritas – na labuta e no ardor do suor

Dia 31 de outubro de 2008, sexta-feira. Porto Alegre.


Depois de uma semana intensa e cansativa de trabalho na capital gaúcha, eu e minha esposa, em plenos 32 graus do calor porto-alegrense, transitávamos pela incessante Avenida Borges de Medeiros que não dava trégua a ninguém. Havíamos saído da prefeitura municipal, na Praça Montevidéo, e tínhamos descoberto que, por força do serviço, teríamos de passar mais uma semana em solo gaúcho.

Achei a situação ótima. Fazia já algum tempo que estava louco pra conhecer a região do Vale dos Vinhedos, no coração do Rio Grande do Sul e, naquele momento, percebi que ali estava a oportunidade. Tratamos de arrumar nossas malas, montar no carro e seguir viagem.

Foram 120 quilômetros até a entrada do Vale. Chegando lá, para nossa surpresa, encontramos uma rodovia estreita que nos faria percorrer os vários cantos dos vinhedos.

A primeira imagem que recordo é deslumbrante. Aquela região, cravada em 82 quilômetros quadrados de terra tinha algo de diferente. E não era somente o clima.


O sol ainda diante de nós, o que se via era uma vista imbatível daquelas primeiras parreiras intermináveis ao longo do horizonte, os contornos verde-oliva que tomavam conta de tudo, e as pequenas curvas que não se cansavam de prosseguir para dentro do desconhecido.

Algumas pessoas dizem que essa região é um pedaço da Itália em nosso solo. Imagino que se trata de um pedaço incomum, diferente, privilegiado de terra e montanhas que nos dá a sensação de estarmos num lugar diferente dos demais.

Após ver o sol cair pelas montanhas, nos dirigimos ao local em que passaríamos todo o final de semana: a Casa Valduga. Na entrada da propriedade, tudo fechado. Será que estávamos no lugar certo? Depois de mais de cinco minutos de suspense, eis que surge alguém responsável pela portaria. Enfim, entramos.

As acomodações são confortáveis, com amplo espaço no quarto, mesa para jantar, um pequeno bar, porém a televisão não é tão grande. Mas quem precisa de televisor em um lugar daqueles?

Porém, o melhor do quarto está fora dele, na sacada. Ao abrir a porta você se depara com a vista do vinhedo, com a vista das pequenas montanhas, com o sopro do clima em seu rosto, com uma beleza natural e rústica que só rivaliza com a tranqüilidade e com o silêncio confortável do entrar da noite. Rapidamente me apossei de uma das cadeiras, pra curtir aquele momento com a paz e a tranqüilidade que só a vida no campo pode proporcionar.


Fomos interrompidos pelo telefone, uma das únicas duas vezes que o ouvi tocar durante todo aquele final de semana. Ligavam da recepção, perguntando qual seria nossa escolha para o jantar. Não entendi de início, mas logo a pessoa que estava do outro lado da linha me esclarecera que havia um cardápio no criado-mudo e que deveríamos confirmar nossa presença no jantar.

O cardápio apresentava-se da seguinte forma: Antipasto (salada de folhas, presunto Parma, alcachofra e tomate); Primo Piato (Risoto de espumante brut, abobrinha e provolone); Secondo Prato (Entrecôte grelhado com guarnição de maionese com batata); Dessert (Bavarese de coco, coulis de morango e cerejas em calda).

Ao chegarmos, uma grata surpresa. Tocava música italiana, um dueto entre Laura Pausini e Andrea Bocelli, havia uma taça de Espumante Moscatel a nossa espera, e o jantar era servido à luz de velas. Você acaba ficando mal acostumado.

No sábado tivemos uma agenda mais incrementada ainda. Já no café da manhã, tivemos o prazer de, ao chegar, sermos recepcionados por um pianista, que tocava Wave, do Tom Jobim. Algo para não se esquecer. Mas também é preciso dizer que eles servem uma geléia de framboesa que vai deixar saudade.

Em seguida iniciamos o nosso curso de degustação de vinhos. Iniciamos com um vídeo sobre a história da vinícula, fundada em 1875.

Depois, fizemos uma detalhada visita em seus setores de produção e armazenamento. Algo que por mais que eu descreva, não terá o mesmo efeito. Por último, fomos para a tal degustação, e pudemos conhecer ao menos 8 vinhos da casa, aprofundar um pouco os nossos conhecimentos e ainda tivemos a oportunidade de conhecer pessoas bem interessantes, o qual tivemos o prazer de almoçar juntos mais tarde.



A partir daí, pudemos percorrer todo o vinhedo; visitamos a Casa de Madeira, um local em que são vendidas geléias, sucos, tudo da produção local e que também é parada obrigatória. Outra coisa que chama a atenção é que as inúmeras cantinas espalhadas pelo vinhedo possuem degustações de vinho bem variadas e interessantes. Só há um porém: elas fecham no final da tarde, portanto, o ideal é acordar cedo e percorrer as propriedades ao longo do dia.

Depois, seguimos em direção ao centro de Bento Gonçalves, que é repleto de lojas, calçadão, e muita gente. Um comércio que não deixa nada a desejar. E, andando pela cidade, também participarmos de uma feira de tecnologia e meio ambiente no mesmo pavilhão de exposições que acontece a FENAVINHO.

Sim, Bento Gonçalves não é somente a casa dos vinhos. Possui o maior índice de desenvolvimento humano do Rio Grande do Sul, um alto PIB, além de uma formação cultural e educacional das mais elevadas.

Ainda tivemos a oportunidade de aproveitar o domingo, antes de retornarmos. Foi um final de semana extremamente agradável, um passeio que ficará em nossa memória pra sempre. Quem tiver a oportunidade de viajar para lá, com certeza terá um dos maiores prazeres e encanto da vida.