sábado, 3 de abril de 2010

Das questões globais às locais - o outro lado da margem do rio.



Creio que o ano de 2010 será registrado como um ano de transição fundamental para a história da economia, política e formação continuada da sociedade brasileira, e terá importância e reflexões ao longo dos próximos anos tanto em suas relações internas, como em suas relações externas.
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Seja pelo impacto que as eleições irão causar nos próximos quatro ou cinco anos, seja pelo molde que se está formando dos valores e práticas da nossa política e economia. E escrevo isso pensando tanto nas questões administrativas, bem como nas questões morais, éticas e de inovação.
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Nos dias de hoje, não existe apenas um ou outro país em busca de sua transformação; quando olhamos o mapa global, notamos que o mundo está em fase de franca adaptação à nova realidade econômica, política e características globais na qual estamos vivendo, uma busca da nova ordem social. Da pujante América do Norte, e suas inovações políticas e limitações, com Barack Obama, seja em relação às recessões européias, saturadas pelos países menores que dependem das nações mais ricas, passando pela nova democracia do Iraque, tudo tende a busca pela adaptação, pelo caminho do novo.
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Ao olharmos o planeta de forma global, constatamos que as relações políticas e econômicas estão intimamente ligadas neste momento. Parece-me que em meio ao desconhecido, todos estão aproveitando para dar novos rumos ao seu país, à suas empresas, às suas relações internacionais.
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Com o Brasil não é diferente. Em ano de eleições, PSDB e PT esboçam caminhos semelhantes e distintos, ao mesmo tempo, um antagonismo típico da nossa política. De um lado, um candidato com bagagem na administração pública, que tem inovado razoavelmente em sua administração no estado de São Paulo, e está normalmente distante de escândalos políticos.
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Do outro, uma candidata vinda da atual administração pública federal, amparada pela alta popularidade do então presidente da república, mas sem grande bagagem em uma administração pública de impacto, ainda que esteja à frente da Casa Civil Federal, ou ainda pela falta de carisma junto à população.
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Porém, em se tratando de carisma, creio que os principais candidatos a presidência da república no Brasil não sejam tão emblemáticos. Por um lado, isso pode até soar negativamente. Por outro, isso pode ser positivo, e a sociedade tirar proveito de uma eleição que poderá eleger mais por eficiência política do que pelo populismo oportunisita.
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Em questão de propostas, ainda teremos que aguardar. Se bem que, em relação às propostas, é muito comum os candidatos fazerem projetos durante a campanha, mas que ao longo do mandato ficam de lado, ou são executadas parcialmente.
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No geral, o que veremos será mais do mesmo, seja com inovações na administração, seja com menos escândalos de corrupção, ou um continuísmo regado a oportunismo barato. E não digo que isso seja ruim, com excessão à corrupção, claro. Quando falo mais do mesmo, percebo que as coisas terão como caminho continuar a política que está aí, sendo implantada há pelo menos duas décadas.
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Mas é uma tendência generalizada no mundo atual. Com suaves mudanças gradativas. Como a própria implantação da democracia no Iraque. Resultado das invasões dos presidentes Bush, pai e filho, criticadas até então. Seja a invasão pelo petróleo, seja por outras razões, o fato é que o resultado hoje é a implantação, no Iraque, de uma novidade para o Oriente Médio.
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Em relação ao Irã, temos dois caminhos possíveis: ou tenta caminhar na mesma linha do discurso comum da paz, da não proliferação de elementos atômicos, para evitar embargos econômicos e sanções mais pesadas, por conta de seus projetos nucleares, ou declara uma pseudo-guerra ao restante do bloco ocidental, e aguenta as conseqüências. Minha visão é de que em breve eles tomarão uma posição de acatar o diálogo dos norte-americanos, pelo menos no sentido de não declaração de conflito armado, pois o interesse financeiro irá falar mais alto que o interesse nacionalista.
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Outro ponto forte globalmente falando é o continuísmo do crescimento chinês, se mantendo em torno de 8% a 10% anualmente. Aos poucos, o impacto interno de sua economia vai influenciado em suas decisões políticas externas, tendendo a um posicionamento de alinhamento ao posicionamento dos norte-americanos, ingleses e franceses.
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O mesmo acontece com a Rússia, mas em proporções menores, uma vez que sua economia não é tão grande como a chinesa, nem tem os mesmos índices de crescimento. Mesmo assim, o caminho adotado pelos russos é o mesmo dos norte-americanos.
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Ao menos pelos dos próximos 10 anos, teremos um continuísmo do que está aí, a liga das nações lideradas pelos Estados Unidos, com forte participação dos chineses, que, pouco a pouco, transforma seu comunismo social em capitalismo "maria vai com as outras". Não dá pra desejar um caminho diferente que está sendo bem trilhado, imaginam os chineses. O ideal é não atrapalhar o andar da carruagem.
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Do lado negativo, vejo a Coréia do Norte, as insistências e provocações Iranianas em relação às questões nucleares, e a ignorância de pseudo-ditaduras da América Latina que ainda resistem ao século XXI com populismos típicos, como os casos de Chavez e Morales.
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Países entre pobres e modestos, sem capacidade de inovação, tecnologia, com restrições pesadas sobre à informação, à liberdade de expressão. Em comum, a ausência da democracia, da liberdade de idéias, e tendo governantes emblemáticos, que fazem uso de diversas artimanhas políticas para se manter no poder de forma ditatorial e oportunista.
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No mais, o tempo sempre vai dando as cartas, o tempero, o modo como as coisas se moldam. Parece que estamos em uma transição econômica e social em moldes globais, com todas as nações querendo acompanhar os padrões econômicos dos Estados Unidos dos anos 1950, a era da pujança, do crescimento, da inovação tecnológica.
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O Brasil fica um tanto pra cá, outro pra lá. Se ampara num governo populista, ativo, com forte e respeitado posicionamento internacional, com uma boa avaliação pessoal, mas que de certa forma está amparado por pilares duvidosos e criticados em seus ministérios, em suas entranhas, além de um Congresso e Senado defasados, carregados de escândalos de todas as espécies. De outro, a tentativa em se manter a democracia, o crescimento econômico e a ampliação do país no contexto global. Estamos próximos, porém distantes de ambos os caminhos.
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De tempos em tempos, retomamos alguns passos em nome de vários, amparado pela história de um. Estamos à margem do rio, do outro lado do rio, seguindo o fluxo das águas, como todo mundo, mas sem deixar de lado as nossas características mais peculiares.


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