quarta-feira, 2 de junho de 2010

O outro lado da moeda

Gostaria de ver a possibilidade de nossos candidatos políticos terem a necessidade de se preparar mais para assumir um mandato. E penso que a exigência de um curso de administração pública seria fundamental.
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Nada contra a Dona Maria da Feira, ou o Fulano do Camelô, costumazes personagens que aparecem nos horários políticos televisivos, e muitas vezes motivo de riso. Mas é inaceitável, em um país que se leve a sério, ter personagens bizarros em uma disputa eleitoral. Não creio que o "Ficha Limpa" seja uma solução. Até porque acho que isso não funcionará na prática.
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A situação é simples. Para se ocupar um cargo público através de concurso público, o candidato precisa ser aprovado em várias etapas e provas, que vão desde conhecimentos gerais, passando por história, língua portuguesa, geografia, matemática, e por aí a fora. A lógica é simples. Quanto mais específico o cargo a ser ocupado, mais se exige do candidato, como formação superior, e em alguns casos, como professores universitários, médicos, entre outros, exige-se especialização.
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Por outro lado, os principais cargos políticos, que definem as nossas leis, ou como investir nossos recursos financeiros, ou nossa representação no exterior, não requerem nenhum pré-requisito. Para se candidatar a vereador, prefeito, deputado, governador, senador ou presidente, ministro ou secretário de estado, basta pertencer a um partido político, se candidatar ou ser indicado por um político já em exercício, ter amizades e recursos financeiros.
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Não há discernimento nas eleições. Escolhe-se aleatoriamente, ou baseado em algo já existente. E muitas vezes, um determinado político envolvido em alguma irregularidade, consegue driblar as leis e, ou se manter no cargo, ou se retirar daquela situação para retornar na eleição seguinte. As casas políticas são formadas por partidos políticos distintos, porém com interesses mútuos, de auto-ajuda ou de retribuições e trocas. Não creio que isso seja democracia. O comportamento e andamento político pode ser qualquer coisa, menos o do interesse comum.
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Acredito que ao final das eleições políticas presidenciais deste ano não teremos alguma mudança de caminho no Brasil em se tratando de economia, desenvolvimento interno, ou mesmo nas questões fiscais, previdenciárias. O rumo brasileiro tende a seguir para um ponto comum, independente do vencedor.
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O que nossa política carece, nesse momento, é de uma reforma da estrutura política, do posicionamento político, da construção da política, da democracia, das bases de desenvolvimento sustentável do nosso país.
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Recentemente, vi o presidente da república falar sobre se produzir mais alimentos para erradicar a fome nos países mais pobres do mundo. Na verdade, não somos exemplo nem temos como falar dessa questão para o resto do mundo, uma vez que somos talvez o país mais desigual do mundo, e temos problemas de miséria extrema não só na região norte e nordeste, mas também nas regiões sudeste, sul e centro-oeste.
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Nosso número de favelas é superior aos números da África. Nossa política de desenvolvimento das nossas regiões mais pobres ainda não foi eficaz, na verdade estamos ainda longe de combater determinadas situações de miséria, educação, habitação, saúde, saneamento básico.
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Em cada enchente que temos, fica claro a dimensão da ocupação indevida do solo, algo colocado à margem de qualquer político, à margem do estado. Hoje, somos o oitavo país mais rico do mundo. Até 2020, provavelmente teremos condições de, no máximo, manter esse resultado ou subir uma posição. Isso se conseguirmos manter uma taxa de crescimento de 5% ao ano.
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Porém, olhar apenas a lista dos países mais ricos do mundo, e nos encontrarmos dentro dela não significa tanta coisa assim, pois olhar apenas nossa posição na tabela do PIB de todos os países do mundo é algo totalmente enganador. Uma vez que a nossa frente temos Itália e Reino Unido, como sétimo e sexto países mais ricos do mundo, ambos desenvolvidos, com uma população total bem inferior a nossa, e sem nossos problemas básicos de falta de infra-estrutra, e por aí a fora.
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Até porque quando comparamos o PIB per capita, nosso índice é muito, mas muito inferior. Claro que a Europa, os Estados Unidos, e o Japão têm problemas, mas são diferentes dos nossos.
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Por outro lado, penso nisso, pois a médio prazo, precisamos definir o país que queremos construir para nossa velhice, para nossas próximas gerações. Fazer discursos inflamados, destacando um ou outro índice é muito fácil. Fazer auto-promoção com recursos públicos e propaganda gratuita (gratuita não, na verdade paga com o dinheiro de nossos impostos) é fácil.
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Mas eu não escolhi esse caminho, muitos brasileiros não escolheram esse caminho. Alguns caminhos foram escolhidos por nós, por pessoas menos preparadas do que nós. Por isso, imaginamos que estamos longe do ideal.
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Do outro lado da moeda, não temos a mesma moeda. Temos qualquer outra coisa, falamos qualquer outra língua. Desejamos qualquer outro caminho. Do outro lado da moeda mora o inverso, o inverso do bom senso, o inverso do discurso inflamado, verborrágico. Do outro lado da moeda mora a realidade, crua, nua, dura. A mesma que não esconde as faltas, as ausências, as ignorâncias, as injustiças. Qual é o outro lado da moeda?

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